13 de out. de 2009

As circunstâncias entre as quais você vive determinam sua reputação. A verdade em que você acredita determina seu caráter. A reputação é o que acham que você é. O caráter é o que você realmente é... A reputação é o que você tem quando chega a uma comunidade nova. O caráter é o que você tem quando vai embora... A reputação é feita em um momento. O caráter é construído em uma vida inteira... A reputação torna você rico ou pobre. O caráter torna você feliz ou infeliz... A reputação é o que os homens dizem de você junto à sua sepultura. O caráter é o que os anjos dizem de você diante de Deus
Arnaldo Jabor

e porque a vida é nossa...a consciência e as atitudes são mais importante que os pré-julgamentos!

Flávio Villaça

Conhecimento compartilhado!!!

Formas de incitar as discussões e democraticar o acesso às informações!
“Não se projeta nunca para, mas sempre contra alguém ou alguma coisa: contra a especulação imobiliária e as leis ou as autoridades que a protegem, contra a exploração do homem pelo homem, contra a mecanização da existência, contra a inércia do hábito e do costume, contra tabus e a superstição, contra a agressão dos violentos, contra a adversidade das forças naturais; sobretudo projeta-se contra a resignação ao imprevísivel, ao acaso , á desordem, aos golpes cegos dos acontecimentos, ao destino. Projeta-se contra a pressão de um passado imodificável, para que sua força seja impulso e não peso, senso de responsabilidade e não complexo de culpa. Projeta-se para algo que é, para que mude; não se pode projetar para algo que não é; não se projeta para aquilo que será depois da revolução, mas para revolução, portanto, contra todo tipo de conservadorismo.”
Giulio Argan, 2000

14 de ago. de 2009

O que somos?

sempre acreditei nisso:
Somos o que somos não por sermos nós mesmos,mas pela coletânea de pequenos pedaços das pessoas que passam pela nossa vida e nos fazem melhores que ontem e, em condições, de sermos melhores do que hoje.
Sandra Catharinne Pantaleão

30 de jul. de 2009

Livro: Inflexões urbanas...




Sinopse

Esta obra se propõe a discutir uma questão intrigante: o porquê do sucesso de algumas cidades em momentos precisos de sua história. Buscar compreender transformações ostensivas nos processos urbanos, algumas vezes positivas, outras tantas negativas, e aqui denominadas de Inflexões Urbanas, é o que se propõe nestas páginas. Seu leitor potencial não é apenas aquele que trabalha ou que estuda a cidade. Claro, é pretensioso dizer que interessa a todos que nela habitam, porém seu texto direto amplia o número de leitores potenciais. Referências a fatos, locais e fenômenos que muitos certamente vivenciam contribuem para esse interesse maior. Cidades como Curitiba, outras do Brasil, da África, Europa e Norte América são aqui trazidas como referências concretas às ideias discutidas. A contribuição deste trabalho de Clovis Ultramari e de Fábio Duarte está na crítica à busca do impossível, à simplificação incabível da realidade urbana e à perda insensata de oportunidades

Qual a linguagem da arquitetura?




O desenho, assim como a fala e a escrita, é uma forma natural de linguagem do homem, um meio de expressão. Como linguagem, permite-lhe expressar-se e registrar suas idéias, a fim de que outros possam, inclusive, compreendê-lo. Artur Renato Ortega comenta como o desenho é uma das primeiras formas de expressão encontrada pelo homem, analisando-o como “forma de representação e comunicação” (2). Representação “como forma de evocar uma situação real na sua ausência”, funcionando assim como registro; torna-se comunicação ao inserir-se “num contexto de sentimentos que se transformam em sua relação homem-impressões (imagens ou letras) sobre uma superfície plana”, permitindo a quem os vê assimilar uma idéia através do olhar de outro.

Como uma linguagem natural do homem, devemos observar a importância da fluidez entre o pensar e o gesto manual que “executa” tal pensamento, por menos técnico seja esse movimento (3). Para o arquiteto o desenho assume uma importância maior, pois é através dele que se realizará o diálogo entre a mente (a idéia) e o construído (o papel), permitindo-o refletir sobre o projeto.

Paula Katakura aborda essa dimensão do desenho do arquiteto, destacando o papel dos primeiros riscos, o croqui:

“Instrumento entre o pensar e o fazer, comunicação e registro das idéias, feito e refeito inúmeras vezes até que satisfaça a todos os padrões e exigências imaginados, o desenho não é apenas o momento técnico do processo. Esclarece, ordena e estrutura as idéias” (4).

Enquanto ordena as idéias gestadas na mente (o universo das idéias), o desenho também favorece a criação, mostrando-se campo fértil para a emergência de novas possibilidades.

Sobre isso, destacamos a pesquisa de Alexandre Monteiro Menezes, que aborda a idéia da “Emergência” e da “Reinterpretação” presentes no projetar com o croqui. Ele destaca como é importante a capacidade do arquiteto de interagir com seus desenhos, usando-os tanto para a criação de soluções impensadas até serem desenhadas quanto para a modificação de propostas já projetadas. Menezes explica que a emergência “refere-se aos pensamentos e idéias que não podiam ter sido planejados ou antecipados antes da execução dos croquis”, enquanto que a reinterpretação “refere-se à habilidade de transformar, desenvolver e gerar novas imagens na mente enquanto desenhando” (5)
Torna-se claro, assim, a importância do croqui para a criação da arquitetura. O croqui é o desenho que

“fornece meios de melhor examinar e perceber as idéias concebidas, é o elemento através do qual o universo conceitual deverá se tornar real, projeção que permite visualizar melhor e ordenar as relações imaginadas. Auxilia a invenção e dá conhecimento a respeito do objeto” (6).

Através de artigo de Gouveia, Ortega conceitua a idéia de croqui, como

“o registro imediato da imagem mental, geradora do projeto. Caracteriza-se por um desenho expressivo, rápido e espontâneo, geralmente não instrumental e que interage no processo de projetar, promovendo um registro imediato da imagem mental (caracterizada por vezes nesse processo pela instabilidade e pela indeterminação de detalhes), criando possibilidades de controle e escolha de alternativas” (7).

Não bastando definir uma idéia, Ortega também procura esclarecer um modus operandi para sua execução:

“Vagnetti aborda a rapidez do croqui como uma necessidade de fixar a primeira idéia, porque atrás dela novas idéias vêm surgindo. Essa agilidade de se trabalhar com a mão e o cérebro é, pois, a verdadeira razão desse desenho: fixar, comparar, combinar imagens mentais” (8).

Michael Graves também observa essa capacidade de reflexão a partir do desenho, defendendo sua natureza especulativa. Ele diferencia três características importantes para o desenho do arquiteto: o croqui de referências, o estudo preparatório e o desenho definitivo (9). Graves acredita que esses três tipos de desenho tenham um importante papel na etapa de concepção do projeto (por mais que suas características possam fundir-se, dependendo do tipo de desenho e da forma de sua análise – o que não impede, ainda assim, uma classificação).


Desenho de apresentação para o cliente. Amplia-se a definição dos materiais empregados e do dimensionamento do espaço. A clareza do detalhamento construtivo também cresce. Fonte: Juliano Oliveira, 2009

O croqui de referência é um desenho feito apenas para a análise de um lugar, uma obra ou um objeto qualquer, sem necessária relação com qualquer projeto em desenvolvimento. Entretanto, esse desenho, além de calibrar a capacidade analítica de seu executor, fornece repertório que pode ser usado futuramente, “uma base metafórica que pode ser usada, transformada ou até empregada em uma composição posterior” (10).

Os estudos preparatórios são desenhos realizados com um claro objetivo de pesquisa em um tema específico, podendo apresentar diversas variações. É a pesquisa elaborada com fins de se chegar a uma proposta mais concreta, em um “processo que não é completamente linear mas envolve o reexame de questões já admitidas” (11).

Finalmente, Graves comenta sobre os desenhos definitivos. São desenhos para mensuração, dotados de proporções mais acertadas, definição de materiais e detalhes construtivos. Enfim, “o desenho torna-se um instrumento para responder questões mais do que para propô-las” (12).

Muito em função dessas características presentes no projetar, Christopher Jones ressalta o valor da liberdade projetual e a importância de sua fluidez, afirmando que acredita no “projetar como uma arte coletiva e compreensiva, que necessita tanto de habilidades imaginativas quanto científicas, mas não pode ser descrita ou determinada cientificamente sem diminuir seu caráter imaginativo” (13).

O projeto de arquitetura, enquanto ciência, nunca é apenas analítico, mas é também sintético: não privilegia apenas a análise (como a ciência clássica), mas também propõe, realiza a síntese da teoria, isto é, constrói (14).



A perspectiva eletrônica também contribui tanto para a definição de materiais quanto para um entendimento mais claro da composição volumétrica. O projeto já está mais próximo do seu "desenho definitivo". Fonte: Juliano Oliveira, 2009




Operações de arquitetura

O rápido desenvolvimento dos meios informatizados de projeto parece apontar para um caminho, sem volta, na prática profissional. Há algum tempo se apresenta uma idéia de convergência digital que acabaria por incorporar todo o “fazer arquitetura” (15). O resultado desse processo seria um novo perfil para o profissional: o do arquiteto computadorizado que substituiria, definitivamente, o profissional da prancheta. Talvez seja mais prudente, entretanto, reafirmar a importância do desenho tradicional no processo de projeto, o que indicaria como boa alternativa à prática atual a hibridização dos processos de trabalho: o tradicional e o digital.

“Os croquis, mesmo depois do advento do CAD, continuam sendo atividade central na prática do projeto arquitetônico e, mais do que qualquer outro método, caracterizam o processo de projetar. [...] O uso do croqui parece dar suporte ao pensamento criativo” (16).

O desenho tradicional – em especial o croqui – ainda se mostra uma “técnica” importante para o processo de criação, em função de sua fluidez e rapidez na representação da idéia imaginada, além de facilitar o desdobramento de novas idéias e formas ainda não pensadas.

Duarte afirma que ao mesmo tempo em que

“ocorre uma relação entre o programa utilizado e o método de trabalho do projetista, pois os programas exigem seqüenciamentos de tarefas [...], o trabalho auxiliado com computador não é idêntico ao tradicional, e este instrumento, até o momento, não cumpre todas as tarefas sempre da melhor maneira. Existe a necessidade de um trabalho híbrido com os outros instrumentos” (17).

Dessa forma, um caminho para a prática contemporânea é o diálogo entre esses vários suportes: croquis tradicionais são ampliados por técnicas digitais de representação e simulação, estimulando a criação e agilizando o trabalho.

“É importante que os arquitetos se dêem conta de que a ferramenta computacional é um meio a mais, e não um substituto total. Ela não vem substituir mas sim agregar-se aos outros” como já alertava Cortesi em 1992, adiantando que “à incorporação dos sistemas gráficos deverá se seguir uma re-acomodação profunda dos critérios teóricos de organização e dos métodos operacionais vigentes em suas atividades” (18).

Daí a persistência da dúvida de alguns arquitetos: a imersão total nas novas tecnologias ou a escolha por um caminho de diálogo e interação entre os vários saberes? Escolhas que o tempo irá mostrar quais as mais corretas.

Notas

1
O artigo é um excerto do seguinte trabalho: OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista. Construindo com bits: análise do processo de projeto assistido por computador. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2007.

2
ORTEGA, Artur Renato. O projeto e o desenho no olhar do arquiteto. Dissertação de mestrado em Arquitetura. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2000, p. 6.

3
O arquiteto Robert Stern comenta sobre uma revalorização do desenho – e em especial do croqui – a partir do Movimento Pós-Moderno, estimando sua capacidade de demonstrar as intenções do projetista de modo mais pessoal (ao contrário da perspectiva axonométrica, típica representação do Movimento Modernista). É o que ele chama de poesia do Movimento Pós-Moderno, que devolve à Arquitetura seu poder enquanto “ato de afirmação cultural”.

4
KATAKURA, Paula. O processo do projeto arquitetônico. Dissertação de mestrado. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1997, p. 29.

5
MENEZES, Alexandre Monteiro. O croqui e a idéia. In: Seminário Arquitetura e Conceito, 2, 2005, Belo Horizonte. 2º Seminário Arquitetura e Conceito. Belo Horizonte, NPGAU / EAUFMG, CD-ROM, p. 5

6
KATAKURA, Paula. Op. cit., p. 31.

7
GOUVEIA, 1998. Apud ORTEGA, Artur Renato. Op. cit., p. 71.

8
ORTEGA, Artur Renato. Op. cit., p. 104. Grifo do autor.

9
GRAVES, Michael. The necessity for drawing: tangible speculations. Architectural Design, nº 6, 1977, p. 384.

10
Idem, ibidem, p. 384.

11
Idem, ibidem, p. 384.

12
Idem, ibidem, p. 387.

13
JONES, John Chris. Design methods in 250 words. Disponível em: . Acesso em 17.04.2007.

14
CAMPOS, José Carlos; SILVA, Cairo Albuquerque da. O projeto como investigação científica: educar pela pesquisa. Arquitextos n. 050, Texto Especial 246. São Paulo, Portal Vitruvius, jul. 2004 .

15
Cf. CORTESI, Myrian Vieira Porto. Projeto de arquitetura e sistemas gráficos computadorizados: uma análise metodológica. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1992, Vol. I.; LAISERIN, Jerry; LINN, Charles. Challenges for the Digital Generation. Architectural Record. New York, n. 12/2000, dez. 2000, p. 166.

16
MENEZES, Alexandre Monteiro. Op. cit., p. 3

17
DUARTE, Rovenir Bertola. Uma investigação sobre as diversas aproximações entre o computador e o processo de ensino/aprendizado do projeto arquitetônico. In: PROJETAR 2003: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ENSINO E PESQUISA EM PROJETO DE ARQUITETURA, 1, 2003, Natal. Anais do Projetar 2003: I Congresso... Natal, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2003, p. 4.

18
CORTESI, Myrian Vieira Porto. Op. cit., p. 28.

Juliano Carlos C. B. Oliveira, Uberaba MG Brasil

Juliano Carlos C. B. Oliveira é arquiteto urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo (EESC-USP) e docente do CAU-UNIUBE.

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops28_05.asp

27 de jul. de 2009

Aprendendo a lidar com o inesperado....


A família é um tesouro inestimável e de valor incalculável. Quando somos crianças, vemos nossos pais como heróis imortais, sem defeitos, protetores e, acima de tudo, nossa referência de mundo. Depois, à medida que vamos crescendo, ainda que os consideremos como herois, sabemos que não são imortais, mas imaginamos que eles ficarão bem velhinhos e verão nossos filhos nascer, crescer e, quem sabe, os filhos deles também. De repente, temos que lidar com as doenças, com coisas que nunca esperávamos que pudesse atingir nossos pais. Imaginar a perda de um deles é dolorosa e, ao invés de pedirmos a proteção deles, pedimos, agora, que nós assumamos o papel de herois, para protegê-los, torná-los mais fortes. Deus sabe colocar as coisas nas horas certas, e será o nosso guia maior, nessa batalha, que está apenas começando...mas seremos vencedores...Fé e esperança...

20 de jun. de 2009

Quase final de semestre

Depois de muito ir e vir de Londrina pra Goiânia, de lá pra cá, de cá pra lá, percebo que as coisas mais importantes da vida estão em nós mesmos, aonde quer que estejamos, aonde quer que vamos. Construir uma carreira, seja em qualquer área, depende de nós mesmos, daquilo que escolhemos nas nossas vidas.

Posso afirmar que não é fácil, mas a cada batalha vencida, cada vitória conquistada faz valer a pena a jornada e o corre-corre do dia-a-dia. Obrigada aos meus alunos que corresponderam com o meu esforço, que buscaram mais e estão se preparando para lançar seus próprios caminhos.
Tenho especial carinho por aqueles que se doam, com tanta paixão a essa profissão, pouco entendida nos dias de hoje, mas muito falada, comentada e exaltada. Pertence unicamente a nós a promover a transformação da sociedade sobre o que de fato é arquitetura.
Obrigada por refletirem a partir das minhas indagações de sala de aula. Alguns de vocês ainda serão meus alunos, no próximo semestre, ou quem sabe só falaremos pelos corredores da escola, mas, enfim, terei sempre que agradecer por aprender com vocês e que eu tenha aberto algumas portas para vocês! Confiem no que acreditam e corram atrás disso!Sempre

6 de jun. de 2009

Dessassossegada...ser feliz é o que há

Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam."

(Martha Medeiros)

2 de jun. de 2009

Sobre o barroco mineiro

Igrejas brasileiras
Trecho do livro

O Rococó Religioso no Brasil e
seus Antecedentes europeus,
de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira,
Cosac & Naify, São Paulo, 2003


Arquitetura e decoração


Fig. 1
Capela de Padre Faria, Ouro Preto
As construções religiosas que surgiram em Minas nos primeiros anos do século XVIII foram a princípio toscas ermidas e modestas capelas em materiais precários, geralmente madeira e barro, que proliferaram ao longo dos caminhos de acesso às zonas de mineração e nas proximidades dos rios e riachos, onde se instalavam as lavras do ouro de aluvião. Pontos de referência das primitivas povoações, essas capelas evoluíram do cômodo único inicial à clássica divisão em nave, capela-mor e sacristia lateral e da fachada desprovida de torres à anexação da torre única, central ou lateral. Na ausência de torres, o problema da colocação dos sinos deu origem a uma série de soluções diferenciadas, algumas bastante originais e sem equivalentes em outras regiões brasileiras. Se algumas são improvisadas, como a dos sinos dependurados em janelas e óculos, outras já são mais elaboradas, como os pequenos arcos de cantaria acima da empena como na capela do Bom Jesus das Flores do Taquaral em Ouro Preto. Particularmente curiosas são as rústicas construções de madeira com pequenos telhados de proteção, anexas às fachadas, solução que parece ter dado origem ao tema da torre única isolada, como na Capela de Padre Faria em Ouro Preto [fig. 1], característica da região.


Fig. 2
Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Sabará
Com o desenvolvimento dos núcleos populacionais e a criação das vilas surgiram as matrizes [fig. 2], amplos edifícios de planta retangular com corredores e tribunas, sacristia transversal nos fundos e torres de seção quadrada nas fachadas, repetindo o partido que caracterizava esse tipo de construção nas vilas litorâneas desde o século XVII. Seu aspecto peculiar em Minas resulta do uso do pau-a-pique e da taipa em lugar da alvenaria de pedra, com o afloramento dos esteios e vigas pintados de cores vivas nas fachadas caiadas de branco e as típicas coberturas de torres com telhados encurvados à moda chinesa. Em meados do século XVIII, a assimilação de técnicas construtivas e ornamentais baseadas no uso da pedra, possibilitou a adoção de partidos arquitetônicos curvilíneos, que a partir da década de 1760 assumiriam na região traçados sinuosos, tipicamente rococós, associados a decorações do mesmo estilo. Nas fachadas, a impossibilidade de importar complementos arquitetônicos em pedra de lioz determinou o uso da pedra sabão local nas portadas escultóricas, nas quais se expandiu o mesmo vocabulário ornamental do rococó desenvolvido na decoração interna. Esses aspectos constituem as marcas distintivas do rococó religioso em Minas Gerais, juntamente com as torres circulares coroadas com bulbos de desenhos variados, sem equivalentes em outras regiões da colônia ou de Portugal.

As igrejas de irmandades construídas nas principais vilas mineiras na segunda metade do século XVIII constituíram um terreno fértil de experiências das novas tendências, tendo sido particularmente significativo o papel desempenhado pelas Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco de Assis, cujas igrejas de Ouro Preto, Mariana, Sabará e São João del Rei, podem ser consideradas as realizações máximas do rococó na região, tanto do ponto de vista arquitetônico quanto ornamental.


Plantas e elevações

A análise da documentação relativa à história das igrejas de irmandades em Minas, na segunda metade do século XVIII, revela dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, a importância relativa dos "riscos" que serviram de base para as arrematações públicas e, em seguida, o papel relevante dos mestres-de-obras portugueses nas construções. As sucessivas modificações do risco inicial, incluindo acréscimos, supressões ou mesmo remodelações totais de partes do edifício projetado, aparecem efetivamente como uma constante no processo construtivo da maioria das igrejas. Casos extremos de transformações de grande abrangência foram os das igrejas do Carmo de Ouro Preto e São Francisco de Assis de São João del Rei, cujos planos iniciais podem entretanto ser reconstituídos em suas linhas básicas pela conservação do texto das "condições" da primeira e de dois "riscos" da segunda.

Até mesmo em uma igreja como a de São Francisco de Assis de Ouro Preto, onde o essencial do partido original foi observado, modificações importantes ocorreram na fachada incluindo o aumento da porta principal, bem como nos espaços acima dos corredores da capela-mor, nos quais eram previstas "varandas" ou terraços descobertos com elegantes balaustradas de pedra-sabão, solução única no contexto da arquitetura religiosa na região5. Outro problema instigante são os possíveis desenhos originais das fachadas do Rosário de Ouro Preto e São Pedro dos Clérigos de Mariana, já que as efetivamente construídas resultam de riscos adicionais.

O segundo aspecto que nos parece essencial à análise arquitetônica das igrejas mencionadas é o fato de praticamente todas terem sido construídas por mestres-de-obras portugueses. As formas curvilíneas e sinuosas que celebrizaram a arquitetura religiosa mineira devem ser creditadas prioritariamente à perícia técnica desses profissionais reinóis, cuja atividade na região na segunda metade do século XVIII ainda não teve o merecido destaque na historiografia artística brasileira. Acresce que esses mestres forneciam também freqüentemente os "riscos" e "condições" para as arrematações das obras e para as modificações ocorridas durante as construções. Entre os autores de riscos até agora identificados na relação de igrejas acima, fogem à citada categoria profissional, apenas o doutor Antônio Pereira de Sousa Calheiros, também de origem portuguesa e o principal artista da região, o mulato Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, provavelmente o único arquiteto nascido na colônia a influir decisivamente na evolução formal das igrejas do período.


Fig. 3
Igreja de Santa Ifigênia, Ouro Preto
A primeira igreja da região a tirar partido efetivo das novas possibilidades construtivas permitidas pelo uso de alvenarias de pedra, parece ter sido a de Santa Efigênia de Ouro Preto [fig. 3], da irmandade do Rosário dos Pretos da freguesia de Antônio Dias, cujas obras foram arrematadas em 1733 pelo pedreiro e mestre-de-obras Antônio Coelho da Fonseca. Não se têm informações precisas sobre a autoria do risco, atribuído a Manoel Francisco Lisboa por análise comparativa com o projeto bastante próximo da Matriz de Caeté, cuja atribuição é atestada por um importante documento de época, a "Memória histórica" de 1790 do vereador de Mariana, Joaquim José da Silva.

Ainda de base retangular, o plano de Santa Efigênia apresenta, entretanto, nítida evolução sobre os planos de outras igrejas do período, na obtenção de formas mais elegantes e funcionais. O espaço da capela-mor é alongado, seus corredores estreitados e os da nave totalmente suprimidos, resultando na projeção lateral das torres destacadas do volume retangular externo. A utilização da pedra transforma sobretudo o aspecto da fachada principal, cujas torres figuram em posição de ligeiro recuo com relação ao frontispício, tendo os ângulos de junção arredondados e coroamentos em forma de bulbo. Outra novidade é a decoração da portada com um nicho abrigando a estátua de Nossa Senhora do Rosário, encimado por um óculo trilobado, sobre o qual a cornija movimenta-se em semicírculo.


Fig. 4
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, Congonhas
Essa movimentação em semicírculo da cornija, de grande importância para a evolução da arquitetura religiosa da região, assim como o formato do óculo e o desenho curvilíneo do frontão, resultam de modificações do risco original, ocorridas por volta de 1760. Na igreja do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas [fig. 4], cuja construção iniciou-se em 1757, os mesmos temas aparecem numa versão menos evoluída e um tanto provinciana, já que o óculo, ainda situado no frontão, é emoldurado superiormente por uma falsa cornija em semicírculo, paralela à verdadeira que permanece retilínea. Note-se que a maioria das igrejas construídas em Minas em meados do século XVIII, entre as quais as matrizes de Congonhas e Caeté e a igreja do Rosário de Mariana, mantém a fachada tradicional com cornija reta e óculo no frontão.

A igreja de Nossa Senhora do Rosário de Mariana foi projetada e construída pelo mestre-de-obras português José Pereira dos Santos, natural da comarca do Porto, que também projetou em 1762 a harmoniosa igreja da Ordem Terceira de São Francisco da mesma cidade, construída após seu falecimento por outro mestre-de-obras português, José Pereira Arouca. Ambas são igrejas conservadoras, que não incorporam os temas curvilíneos que faziam sua aparição no momento em duas igrejas revolucionárias construídas pelo mesmo José Pereira dos Santos, as de São Pedro dos Clérigos de Mariana e Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da freguesia do Pilar de Ouro Preto.

Já tendo analisado o caso dessas duas igrejas, consideradas por John Bury como "um breve episódio barroco" no panorama da arquitetura religiosa em Minas Gerais, e cujo único saldo para a evolução posterior foram as torres curvilíneas, passamos ao estudo das igrejas do período rococó propriamente dito. Introduzido na região a partir de 1760 aproximadamente, o novo estilo além de modificar de forma radical a decoração interna e o desenho das fachadas das igrejas, influiu também no desenho das plantas de duas igrejas excepcionais, as de Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto e São Francisco de Assis de São João del Rei, nas quais a intervenção do Aleijadinho é atestada por documentação da época. O mesmo não pode ser dito com relação à igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, cujo projeto datado de 1766, é-lhe atribuído com base apenas na tradição oral, possivelmente calcada no fato de nela ter trabalhado mais de 20 anos, onde realizou toda a ornamentação escultórica em madeira e pedra-sabão, incluindo os retábulos, púlpitos, portada e lavabo da sacristia.


Fig. 5
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Ouro Preto
Com efeito, se comparamos a fachada de São Francisco de Ouro Preto [fig. 5] com as duas fachadas do Aleijadinho com comprovação documental, as do Carmo de Ouro Preto e a do desenho de São Francisco de São João del Rei, veremos que estamos diante de universos estilísticos diferentes. Além do deslocamento em rotação das torres de São Francisco de Ouro Preto e o seu próprio formato cilíndrico repetirem tema já ensaiado na igreja do Rosário dos Pretos na década anterior16, essa movimentação, caracteristicamente barroca, encontra reforço em idêntico movimento rotativo dos fragmentos de frontão acima das colunas, tema típico do barroco tardio internacional. Note-se ainda a simplicidade das janelas em ambas as igrejas, encimadas por simples vergas alteadas e sem as molduras ornamentais que caracterizam as demais igrejas do Aleijadinho. Mais próximas do barroco tardio do que do rococó, são ainda as oposições côncavo-convexas da fachada de São Francisco, a serem relacionadas, por exemplo, com a igreja de Santa Engrácia de Lisboa. Na arquitetura da região há apenas outro monumento com movimentação semelhante de volumes externos: o adro do Santuário de Congonhas, iniciado em 1777, mas cujo risco poderia datar de período anterior.


Fig. 6
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, Ouro Preto
Comparada à fachada de São Francisco, a da Ordem Terceira do Carmo [fig. 6] projetada no mesmo ano de 1766 por Manuel Francisco Lisboa, mas inteiramente modificada por volta de 1770 por uma equipe da qual teria feito parte o próprio Aleijadinho, apresenta diferenças que saltam aos olhos. Em linhas gerais pode-se dizer que temos aqui a estrutura composicional da fachada de Santa Efigênia, transfigurada em versão rococó. Uma linha sinuosa contínua ondula levemente o frontispício, o óculo trilobado, de desenho tipicamente rococó, é integrado à decoração rocaille da portada e as torres esbeltas com faces ligeiramente arredondadas estão em posição frontal e são coroadas por bulbos em forma de sino, de inspiração germânica. Já mais próximos da tradição luso-brasileira são o desenho das molduras das janelas, com seu arremate em ponta, de gosto pombalino, e a silhueta esparramada do frontão estático, longe do arroubo dramático do de São Francisco de Assis.


Fig. 7
Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho, Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei, projeto da fachada
O projeto elaborado pelo Aleijadinho em 1774 para a fachada da igreja de São Francisco de São João del Rei [fig. 7], que se situa na mesma linha evolutiva do Carmo de Ouro Preto, teria vindo a caracterizar, se executado, a mais genuinamente rococó das fachadas religiosas mineiras. Veremos mais adiante a versão criada e construída por Lima Cerqueira. Por ora interessa a análise do risco, felizmente conservado, um belo e minucioso desenho em bico-de-pena com marcação dos volumes em sombreado, que dá uma idéia bastante precisa do pensamento original do autor. As elegantes torres chanfradas e ligeiramente arredondadas enquadram um frontispício levemente sinuoso como o da igreja do Carmo, tendo desenho semelhante ao dessa igreja, com o mesmo coroamento em forma de sino, em tratamento mais evoluído. Outras semelhanças podem ser detectadas no desenho ornamental da portada e das molduras das janelas, diferindo, entretanto, o modelo do óculo e do frontão, ladeado de vigorosas rocalhas chamejantes, que impulsionam visualmente para o alto o relevo escultórico central com a cena da visão de São Francisco no Monte Alverne.

Com relação às plantas, tanto a do Carmo quanto a de São Francisco de Assis de Ouro Preto, são do tipo convencional, com nave e capela-mor retangulares, corredores ao longo da capela-mor e sacristia transversal nos fundos. As inovações curvilíneas restringem-se às fachadas e aos chanfros convexos nos ângulos internos da nave, mais acentuados em São Francisco do que no Carmo.


Fig. 8
Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho, Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei, desenho da elevação lateral


Fig. 9
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei, elevação lateral
Nesse contexto é importante lembrar que a ondulação sinuosa das paredes laterais da nave de São Francisco de Assis de São João del Rei, que representa o termo evolutivo natural do partido das fachadas sinuosas, inaugurado no Carmo de Ouro Preto, não constava no risco original de Aleijadinho, devendo-se na realidade a uma das "modificações" do construtor Lima Cerqueira, que lhe valeram intensas críticas em nossa historiografia artística [figs. 8 e 9].

É tempo de nos determos na figura controvertida do arquiteto e mestre-de-obras português Francisco de Lima Cerqueira, cuja real contribuição ao desenvolvimento da arquitetura colonial mineira do período rococó ainda não foi avaliada com justiça, apesar de ter sido apresentado pelo vereador de Mariana como "hábil artista da igreja franciscana do Rio das Mortes" e reconhecido por Germain Bazin como "um dos arquitetos mais importantes de Minas na época rococó". Natural do arcebispado de Braga, já morava em Ouro Preto em 1763, tendo dirigido, entre 1765 e 1773, a construção das torres e da capela-mor do Santuário de Congonhas. Em 1771, foi o arrematante das obras de conclusão do Carmo de Ouro Preto, incluindo as do "pórtico", da fachada e do "lavatório da sacristia", cujas esculturas ornamentais seriam executadas pelo Aleijadinho, marco inicial de uma parceria profissional entre os dois artistas, mais tarde repetida nas Igrejas de São Francisco de Assis e do Carmo de São João del Rei.


Fig. 10
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei
Com efeito, o Aleijadinho, arquiteto e escultor, nunca foi construtor nem procedia a arrematações, trabalhando geralmente em regime de ajuste direto com a irmandade-cliente ou subcontrato com o mestre-de-obras para a execução de esculturas ornamentais com riscos na maioria das vezes de sua própria autoria. No caso dos projetos arquitetônicos, vimos que as modificações eram um processo habitual, nada tendo portanto de extraordinário o fato do mestre-de-obras e também arquiteto Francisco de Lima Cerqueira modificar o risco original da igreja da Ordem Terceira de São Francisco de São João del Rei [fig. 10] ao longo do processo construtivo da igreja, situado entre 1774 e 1804.

O extraordinário, a nosso ver, é que a amplitude dessas modificações tenha tido como resultado final uma obra de tamanha qualidade, produzida pela sensibilidade e perícia técnica de Lima Cerqueira, e devendo em conseqüência ser avaliada em seus valores próprios e não comparativamente a um projeto inicial não obedecido, como até hoje se fez. Desse, apenas conservaram-se o motivo central do óculo redondo da fachada, a estrutura básica do desenho do frontão e alguns detalhes como o motivo circular que decora a parte inferior das torres e desenho das seteiras. Tudo o mais é Lima Cerqueira, do novo desenho das torres circulares com varandins no coroamento ao próprio plano do edifício com sua nave elíptica sinuosa, capela-mor alongada e sacristia lateral do lado direito. Chamamos também a atenção para o gracioso feitio dos óculos e janelas laterais e o novo desenho da portada solicitado ao Aleijadinho que será analisado no item seguinte.


Fig. 11
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, São João del Rei
Na fachada da igreja do Carmo [fig. 11] da mesma cidade, ajustada em dezembro de 1787, Lima Cerqueira repete os dados básicos da fachada de São Francisco, modificando entretanto o feitio dos bulbos das torres e suprimindo os varandins. O formato curvilíneo destas foi todavia posteriormente transformado em poligonal por decisão da Mesa da Ordem para que ficassem "mais vistosas e engraçadas". O atual frontão, avaliado por Germain Bazin como "pesado e com recortes inúteis" foi executado a partir de outro risco, confeccionado após a morte do arquiteto Lima Cerqueira.


Fig. 12
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, Mariana
Do ponto de vista arquitetônico é importante também incluir nesta série a igreja da Ordem Terceira do Carmo de Mariana [fig. 12], a última em seqüência cronológica, uma vez que a decisão de sua construção data do ano de 1783. É conhecido o nome do construtor, o mestre-de-obras Domingos Moreira de Oliveira, que também construiu a igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, e trabalhou nas obras de Santa Efigênia. O principal interesse está na fachada, uma curiosa reinterpretação de temas recém-introduzidos na arquitetura religiosa da região. O impacto maior vem das torres redondas, projetadas para trás do frontão, como em São Francisco de Ouro Preto, mas sem movimento rotativo. A referência a esta última igreja volta, aliás, na ênfase dada ao alteamento da cimalha acima do óculo, com alargamento inusitado para alcançar visualmente o limite interno das torres, servindo de base ao movimento do frontão. Por ocasião do falecimento do construtor em 1794, as obras ainda não estavam concluídas, prolongando-se até a terceira década do século XIX.

vale a pena conhecer este site

10 de mai. de 2009

Surpresa, alegrias e renovação

Meus 29 anos teve um sabor especial, único, emocionante!!!!

Pela primeira vez, ganhei uma festa surpresa. Realmente 2009 tem sido um ano de grandes conquistas, descobertas e caminhos mais e mais felizes. Sinto-me privilegiada de estar aonde estou e ter essa fluidez de energia com a moçada da faculdade!!!!!



Mais uma vez obrigada!!!

7 de mai. de 2009

Sobre conformismo e superação

Bem...hoje resolvi manifestar minha postura quanto ao que eu considero esconder-se para o mundo. Foi em fevereiro/2009, quando recebi a notícia de que poderia realizar um sonho que nasceu ainda na faculdade e que era partilhado por todos: ser docente do curso de Arquitetura e Urbanismo.
Não foi uma possibilidade planejada, nem um sonho despertado, simplesmente as coisas aconteceram...mas algumas coisas tinham que ser resolvidas, pois teria que me dividir entre dois lugares, ou melhor, compartilhar meia semana em Goiânia, um pouco na estrada e outra metade em Londrina. Puxa! Será que ela endoideceu de vez, diriam os mais céticos? ou ainda, para que todo esse trabalhão se você não precisa de grana assim, para se submeter a ficar mais na estrada do que na sua própria casa?
Além do mais, colocariam em xeque a minha sólida relação com meu marido (aliás, uma das poucas pessoas que sabiam exatamente o significado de tudo que estava acontecendo e, portanto, me deu forças para ir à luta).
Pois é, caros amigos, foi uma avalanche de obstáculos, dentre os quais as relações financeiras. Para os reducionistas ou simplistas, digamos assim, o fator GRANA está acima de qualquer outra coisa, mas por quê? É aqui que realmente começa o meu desabafo...rs

Vejamos de um ponto de vista mais amplo: será que as políticas assistencialistas são fatores de estímulo ao conformismo, uma vez que não há rígidas regras para receber as famosas "bolsas sociais"? Aliás, é necessário que a pessoa não trabalhe, ou não tenha uma renda digna para ser um candidato potencial.
Tudo bem, não quero aqui julgar os beneficiados, mas sim os beneficiários, ou seja, aqueles que definem e regem a administração das bolsas. Não seria, pois, mais produtivo realizar cursos de capacitação, incentivar o estudo ou, até mesmo e, porque não, o desenvolvimento e a criatividade para alavancar o crescimento do país?
Ah! mais isso dá muito trabalho, tem-se que dispor de tempo e, acima de tudo, QUERER para que outras pessoas possam ter uma vida mais digna. Aí opta-se pela continuidade de um programa que de nada modifica a vida das pessoas a longo prazo, tornando-as dependente de um conformismo burocrático e sem propósitos de políticas sociais, no âmago do termo. Assim, retomando, pensemos sobre o estímulo que é dado aos estudantes de cursos de pós graduação, cujo conceito da CAPES é o mínimo (3):
primeiramente, se o curso tem o conceito mínimo, supõe-se que ele necessite de uma espécie de "bolsa social" para promover-se, atendendo de forma mais contundente as determinações da própria CAPES,ou seja, avançar para conceitos 4, 5 ou 6...
Para isso, teríamos que ter meios de distribuir os incentivos entre os alunos, tendo como contrapartida a contribuição discente para essa dura jornada. No entanto, parece mais fácil, cômodo contentar-se com o mínimo do mínimo para angariar fundos, pois sendo "mais necessitados" sempre apareceram fundações, autarquias, entre outras instituições dispostas a ser beneficiárias, estipulando cotas.
Na contramão disso, se dessas cotas houver resultados positivos, as chances do curso conseguir o conceito 4 aumentam e, por conseguinte, arrisca-se a não precisar mais dessas cotas.
Será que se conformar com as migalhas, não arriscar-se é mais proveitoso do que ir a luta, por a cara a tapa e conquistar novos caminhos?

Então, resumindo, fui, de certa forma, intimidada a não aceitar o contrato, pois estaria sujeita a perder a bolsa recém conquistada pelo programa, do qual faço parte. Como o fizeram? Impedindo-me de continuar com a cota, pois isso poderia balançar minha decisão e levar-me a ficar em casa, esperando alguma angaria de alguém que achasse que eu merecesse, mas eu não me deixei abalar e segui os meus sentimentos, e, depois de dois meses, posso dizer: SIM, ESTÁ VALENDO A PENA! SIM, EU NÃO PRECISO DE MIGALHAS PARA VIVER E NÃO TENHO MEDO DE LUTAR!

Além do mais, estou aprendendo com a vida, com as pessoas que estão aparecendo na minha vida, e, mais que isso, realizando um sonho. Sentir-se realizado não tem preço, não tem distância, não tem como descrever. Enfim, só podemos julgar qualquer coisa, quando já experimentada, avaliando ao invés de preconceber ou de lançar preconceitos. Se eu vou terminar o mestrado? Ah! mas é claro que sim, muito mais porque eu quero do que por obrigação e aos mais céticos: EU ESTOU NA ESTRADA E NÃO TEREI MEDO DE ENFRENTAR AS ADVERSIDADES MAIS DURAS.

Por que hoje escrevo essas tortuosas linhas? Porque me sinto forte, livre de um sentimento de revolta, e, acima de tudo, imensamente feliz pelo trabalho que tenho feito! Seja como for, VALEU A PENA, pois tornei-me mais guerreira que antes, mais determinada.

Sandra Catharinne Pantaleão
07/05/2009

29 de abr. de 2009

sobre amores, insensatez e futebol.....

Pq eu torço pro timão? Porque ele me surpreende, me emociona, me leva da frustação ao sorriso ingênuo...fortalece a minha perseverança, ressurge das mais incrédulos, atiçando aquilo que temos de mais forte: o poder de superação!!!! Seremos sempre testados seja por limites, seja por dificuldades, enfim, os revés que não entendemos bem porque incorrem voluptosamente em nossas vidas, dilacerando nossas crenças mais sólidas. Sim, coragem, força e determinação...com pitadas de amor e ética...Feliz, sempre!!!


nomandismo cult



Desde que enveredei pela pesquisa, tenho estudado, tentando entender a frenética lógica das cidades, das relações implícitas, das pessoas, tentando, enfim, situar-me num mundo sem rumo...assim, fui para longe de casa...sem ao menos saber o que esperar, ou o que receber, eu diria. Sim, receber uma nova visão, amadurecer na marra, enfrentar a timidez, a voz arrastada do interior e conquistar um lugar que ainda não sei aonde vai me levar. Por enquanto, estou em busca, talvez de mim mesma, mas feliz, pela oportunidade de ver, reconhecer e perceber vários lugares, pessoas diferentes, situações inusitadas e muitas, mas muitas histórias para contar....são milhares de km registrados....

e assim vou procurando o porto seguro, a realização de sonhos, compartilhados com pessoas mais que especial...