20 de jun. de 2009

Quase final de semestre

Depois de muito ir e vir de Londrina pra Goiânia, de lá pra cá, de cá pra lá, percebo que as coisas mais importantes da vida estão em nós mesmos, aonde quer que estejamos, aonde quer que vamos. Construir uma carreira, seja em qualquer área, depende de nós mesmos, daquilo que escolhemos nas nossas vidas.

Posso afirmar que não é fácil, mas a cada batalha vencida, cada vitória conquistada faz valer a pena a jornada e o corre-corre do dia-a-dia. Obrigada aos meus alunos que corresponderam com o meu esforço, que buscaram mais e estão se preparando para lançar seus próprios caminhos.
Tenho especial carinho por aqueles que se doam, com tanta paixão a essa profissão, pouco entendida nos dias de hoje, mas muito falada, comentada e exaltada. Pertence unicamente a nós a promover a transformação da sociedade sobre o que de fato é arquitetura.
Obrigada por refletirem a partir das minhas indagações de sala de aula. Alguns de vocês ainda serão meus alunos, no próximo semestre, ou quem sabe só falaremos pelos corredores da escola, mas, enfim, terei sempre que agradecer por aprender com vocês e que eu tenha aberto algumas portas para vocês! Confiem no que acreditam e corram atrás disso!Sempre

6 de jun. de 2009

Dessassossegada...ser feliz é o que há

Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam."

(Martha Medeiros)

2 de jun. de 2009

Sobre o barroco mineiro

Igrejas brasileiras
Trecho do livro

O Rococó Religioso no Brasil e
seus Antecedentes europeus,
de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira,
Cosac & Naify, São Paulo, 2003


Arquitetura e decoração


Fig. 1
Capela de Padre Faria, Ouro Preto
As construções religiosas que surgiram em Minas nos primeiros anos do século XVIII foram a princípio toscas ermidas e modestas capelas em materiais precários, geralmente madeira e barro, que proliferaram ao longo dos caminhos de acesso às zonas de mineração e nas proximidades dos rios e riachos, onde se instalavam as lavras do ouro de aluvião. Pontos de referência das primitivas povoações, essas capelas evoluíram do cômodo único inicial à clássica divisão em nave, capela-mor e sacristia lateral e da fachada desprovida de torres à anexação da torre única, central ou lateral. Na ausência de torres, o problema da colocação dos sinos deu origem a uma série de soluções diferenciadas, algumas bastante originais e sem equivalentes em outras regiões brasileiras. Se algumas são improvisadas, como a dos sinos dependurados em janelas e óculos, outras já são mais elaboradas, como os pequenos arcos de cantaria acima da empena como na capela do Bom Jesus das Flores do Taquaral em Ouro Preto. Particularmente curiosas são as rústicas construções de madeira com pequenos telhados de proteção, anexas às fachadas, solução que parece ter dado origem ao tema da torre única isolada, como na Capela de Padre Faria em Ouro Preto [fig. 1], característica da região.


Fig. 2
Matriz de Nossa Senhora da Conceição, Sabará
Com o desenvolvimento dos núcleos populacionais e a criação das vilas surgiram as matrizes [fig. 2], amplos edifícios de planta retangular com corredores e tribunas, sacristia transversal nos fundos e torres de seção quadrada nas fachadas, repetindo o partido que caracterizava esse tipo de construção nas vilas litorâneas desde o século XVII. Seu aspecto peculiar em Minas resulta do uso do pau-a-pique e da taipa em lugar da alvenaria de pedra, com o afloramento dos esteios e vigas pintados de cores vivas nas fachadas caiadas de branco e as típicas coberturas de torres com telhados encurvados à moda chinesa. Em meados do século XVIII, a assimilação de técnicas construtivas e ornamentais baseadas no uso da pedra, possibilitou a adoção de partidos arquitetônicos curvilíneos, que a partir da década de 1760 assumiriam na região traçados sinuosos, tipicamente rococós, associados a decorações do mesmo estilo. Nas fachadas, a impossibilidade de importar complementos arquitetônicos em pedra de lioz determinou o uso da pedra sabão local nas portadas escultóricas, nas quais se expandiu o mesmo vocabulário ornamental do rococó desenvolvido na decoração interna. Esses aspectos constituem as marcas distintivas do rococó religioso em Minas Gerais, juntamente com as torres circulares coroadas com bulbos de desenhos variados, sem equivalentes em outras regiões da colônia ou de Portugal.

As igrejas de irmandades construídas nas principais vilas mineiras na segunda metade do século XVIII constituíram um terreno fértil de experiências das novas tendências, tendo sido particularmente significativo o papel desempenhado pelas Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco de Assis, cujas igrejas de Ouro Preto, Mariana, Sabará e São João del Rei, podem ser consideradas as realizações máximas do rococó na região, tanto do ponto de vista arquitetônico quanto ornamental.


Plantas e elevações

A análise da documentação relativa à história das igrejas de irmandades em Minas, na segunda metade do século XVIII, revela dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, a importância relativa dos "riscos" que serviram de base para as arrematações públicas e, em seguida, o papel relevante dos mestres-de-obras portugueses nas construções. As sucessivas modificações do risco inicial, incluindo acréscimos, supressões ou mesmo remodelações totais de partes do edifício projetado, aparecem efetivamente como uma constante no processo construtivo da maioria das igrejas. Casos extremos de transformações de grande abrangência foram os das igrejas do Carmo de Ouro Preto e São Francisco de Assis de São João del Rei, cujos planos iniciais podem entretanto ser reconstituídos em suas linhas básicas pela conservação do texto das "condições" da primeira e de dois "riscos" da segunda.

Até mesmo em uma igreja como a de São Francisco de Assis de Ouro Preto, onde o essencial do partido original foi observado, modificações importantes ocorreram na fachada incluindo o aumento da porta principal, bem como nos espaços acima dos corredores da capela-mor, nos quais eram previstas "varandas" ou terraços descobertos com elegantes balaustradas de pedra-sabão, solução única no contexto da arquitetura religiosa na região5. Outro problema instigante são os possíveis desenhos originais das fachadas do Rosário de Ouro Preto e São Pedro dos Clérigos de Mariana, já que as efetivamente construídas resultam de riscos adicionais.

O segundo aspecto que nos parece essencial à análise arquitetônica das igrejas mencionadas é o fato de praticamente todas terem sido construídas por mestres-de-obras portugueses. As formas curvilíneas e sinuosas que celebrizaram a arquitetura religiosa mineira devem ser creditadas prioritariamente à perícia técnica desses profissionais reinóis, cuja atividade na região na segunda metade do século XVIII ainda não teve o merecido destaque na historiografia artística brasileira. Acresce que esses mestres forneciam também freqüentemente os "riscos" e "condições" para as arrematações das obras e para as modificações ocorridas durante as construções. Entre os autores de riscos até agora identificados na relação de igrejas acima, fogem à citada categoria profissional, apenas o doutor Antônio Pereira de Sousa Calheiros, também de origem portuguesa e o principal artista da região, o mulato Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, provavelmente o único arquiteto nascido na colônia a influir decisivamente na evolução formal das igrejas do período.


Fig. 3
Igreja de Santa Ifigênia, Ouro Preto
A primeira igreja da região a tirar partido efetivo das novas possibilidades construtivas permitidas pelo uso de alvenarias de pedra, parece ter sido a de Santa Efigênia de Ouro Preto [fig. 3], da irmandade do Rosário dos Pretos da freguesia de Antônio Dias, cujas obras foram arrematadas em 1733 pelo pedreiro e mestre-de-obras Antônio Coelho da Fonseca. Não se têm informações precisas sobre a autoria do risco, atribuído a Manoel Francisco Lisboa por análise comparativa com o projeto bastante próximo da Matriz de Caeté, cuja atribuição é atestada por um importante documento de época, a "Memória histórica" de 1790 do vereador de Mariana, Joaquim José da Silva.

Ainda de base retangular, o plano de Santa Efigênia apresenta, entretanto, nítida evolução sobre os planos de outras igrejas do período, na obtenção de formas mais elegantes e funcionais. O espaço da capela-mor é alongado, seus corredores estreitados e os da nave totalmente suprimidos, resultando na projeção lateral das torres destacadas do volume retangular externo. A utilização da pedra transforma sobretudo o aspecto da fachada principal, cujas torres figuram em posição de ligeiro recuo com relação ao frontispício, tendo os ângulos de junção arredondados e coroamentos em forma de bulbo. Outra novidade é a decoração da portada com um nicho abrigando a estátua de Nossa Senhora do Rosário, encimado por um óculo trilobado, sobre o qual a cornija movimenta-se em semicírculo.


Fig. 4
Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, Congonhas
Essa movimentação em semicírculo da cornija, de grande importância para a evolução da arquitetura religiosa da região, assim como o formato do óculo e o desenho curvilíneo do frontão, resultam de modificações do risco original, ocorridas por volta de 1760. Na igreja do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos de Congonhas [fig. 4], cuja construção iniciou-se em 1757, os mesmos temas aparecem numa versão menos evoluída e um tanto provinciana, já que o óculo, ainda situado no frontão, é emoldurado superiormente por uma falsa cornija em semicírculo, paralela à verdadeira que permanece retilínea. Note-se que a maioria das igrejas construídas em Minas em meados do século XVIII, entre as quais as matrizes de Congonhas e Caeté e a igreja do Rosário de Mariana, mantém a fachada tradicional com cornija reta e óculo no frontão.

A igreja de Nossa Senhora do Rosário de Mariana foi projetada e construída pelo mestre-de-obras português José Pereira dos Santos, natural da comarca do Porto, que também projetou em 1762 a harmoniosa igreja da Ordem Terceira de São Francisco da mesma cidade, construída após seu falecimento por outro mestre-de-obras português, José Pereira Arouca. Ambas são igrejas conservadoras, que não incorporam os temas curvilíneos que faziam sua aparição no momento em duas igrejas revolucionárias construídas pelo mesmo José Pereira dos Santos, as de São Pedro dos Clérigos de Mariana e Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da freguesia do Pilar de Ouro Preto.

Já tendo analisado o caso dessas duas igrejas, consideradas por John Bury como "um breve episódio barroco" no panorama da arquitetura religiosa em Minas Gerais, e cujo único saldo para a evolução posterior foram as torres curvilíneas, passamos ao estudo das igrejas do período rococó propriamente dito. Introduzido na região a partir de 1760 aproximadamente, o novo estilo além de modificar de forma radical a decoração interna e o desenho das fachadas das igrejas, influiu também no desenho das plantas de duas igrejas excepcionais, as de Nossa Senhora do Carmo de Ouro Preto e São Francisco de Assis de São João del Rei, nas quais a intervenção do Aleijadinho é atestada por documentação da época. O mesmo não pode ser dito com relação à igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, cujo projeto datado de 1766, é-lhe atribuído com base apenas na tradição oral, possivelmente calcada no fato de nela ter trabalhado mais de 20 anos, onde realizou toda a ornamentação escultórica em madeira e pedra-sabão, incluindo os retábulos, púlpitos, portada e lavabo da sacristia.


Fig. 5
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Ouro Preto
Com efeito, se comparamos a fachada de São Francisco de Ouro Preto [fig. 5] com as duas fachadas do Aleijadinho com comprovação documental, as do Carmo de Ouro Preto e a do desenho de São Francisco de São João del Rei, veremos que estamos diante de universos estilísticos diferentes. Além do deslocamento em rotação das torres de São Francisco de Ouro Preto e o seu próprio formato cilíndrico repetirem tema já ensaiado na igreja do Rosário dos Pretos na década anterior16, essa movimentação, caracteristicamente barroca, encontra reforço em idêntico movimento rotativo dos fragmentos de frontão acima das colunas, tema típico do barroco tardio internacional. Note-se ainda a simplicidade das janelas em ambas as igrejas, encimadas por simples vergas alteadas e sem as molduras ornamentais que caracterizam as demais igrejas do Aleijadinho. Mais próximas do barroco tardio do que do rococó, são ainda as oposições côncavo-convexas da fachada de São Francisco, a serem relacionadas, por exemplo, com a igreja de Santa Engrácia de Lisboa. Na arquitetura da região há apenas outro monumento com movimentação semelhante de volumes externos: o adro do Santuário de Congonhas, iniciado em 1777, mas cujo risco poderia datar de período anterior.


Fig. 6
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, Ouro Preto
Comparada à fachada de São Francisco, a da Ordem Terceira do Carmo [fig. 6] projetada no mesmo ano de 1766 por Manuel Francisco Lisboa, mas inteiramente modificada por volta de 1770 por uma equipe da qual teria feito parte o próprio Aleijadinho, apresenta diferenças que saltam aos olhos. Em linhas gerais pode-se dizer que temos aqui a estrutura composicional da fachada de Santa Efigênia, transfigurada em versão rococó. Uma linha sinuosa contínua ondula levemente o frontispício, o óculo trilobado, de desenho tipicamente rococó, é integrado à decoração rocaille da portada e as torres esbeltas com faces ligeiramente arredondadas estão em posição frontal e são coroadas por bulbos em forma de sino, de inspiração germânica. Já mais próximos da tradição luso-brasileira são o desenho das molduras das janelas, com seu arremate em ponta, de gosto pombalino, e a silhueta esparramada do frontão estático, longe do arroubo dramático do de São Francisco de Assis.


Fig. 7
Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho, Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei, projeto da fachada
O projeto elaborado pelo Aleijadinho em 1774 para a fachada da igreja de São Francisco de São João del Rei [fig. 7], que se situa na mesma linha evolutiva do Carmo de Ouro Preto, teria vindo a caracterizar, se executado, a mais genuinamente rococó das fachadas religiosas mineiras. Veremos mais adiante a versão criada e construída por Lima Cerqueira. Por ora interessa a análise do risco, felizmente conservado, um belo e minucioso desenho em bico-de-pena com marcação dos volumes em sombreado, que dá uma idéia bastante precisa do pensamento original do autor. As elegantes torres chanfradas e ligeiramente arredondadas enquadram um frontispício levemente sinuoso como o da igreja do Carmo, tendo desenho semelhante ao dessa igreja, com o mesmo coroamento em forma de sino, em tratamento mais evoluído. Outras semelhanças podem ser detectadas no desenho ornamental da portada e das molduras das janelas, diferindo, entretanto, o modelo do óculo e do frontão, ladeado de vigorosas rocalhas chamejantes, que impulsionam visualmente para o alto o relevo escultórico central com a cena da visão de São Francisco no Monte Alverne.

Com relação às plantas, tanto a do Carmo quanto a de São Francisco de Assis de Ouro Preto, são do tipo convencional, com nave e capela-mor retangulares, corredores ao longo da capela-mor e sacristia transversal nos fundos. As inovações curvilíneas restringem-se às fachadas e aos chanfros convexos nos ângulos internos da nave, mais acentuados em São Francisco do que no Carmo.


Fig. 8
Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho, Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei, desenho da elevação lateral


Fig. 9
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei, elevação lateral
Nesse contexto é importante lembrar que a ondulação sinuosa das paredes laterais da nave de São Francisco de Assis de São João del Rei, que representa o termo evolutivo natural do partido das fachadas sinuosas, inaugurado no Carmo de Ouro Preto, não constava no risco original de Aleijadinho, devendo-se na realidade a uma das "modificações" do construtor Lima Cerqueira, que lhe valeram intensas críticas em nossa historiografia artística [figs. 8 e 9].

É tempo de nos determos na figura controvertida do arquiteto e mestre-de-obras português Francisco de Lima Cerqueira, cuja real contribuição ao desenvolvimento da arquitetura colonial mineira do período rococó ainda não foi avaliada com justiça, apesar de ter sido apresentado pelo vereador de Mariana como "hábil artista da igreja franciscana do Rio das Mortes" e reconhecido por Germain Bazin como "um dos arquitetos mais importantes de Minas na época rococó". Natural do arcebispado de Braga, já morava em Ouro Preto em 1763, tendo dirigido, entre 1765 e 1773, a construção das torres e da capela-mor do Santuário de Congonhas. Em 1771, foi o arrematante das obras de conclusão do Carmo de Ouro Preto, incluindo as do "pórtico", da fachada e do "lavatório da sacristia", cujas esculturas ornamentais seriam executadas pelo Aleijadinho, marco inicial de uma parceria profissional entre os dois artistas, mais tarde repetida nas Igrejas de São Francisco de Assis e do Carmo de São João del Rei.


Fig. 10
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, São João del Rei
Com efeito, o Aleijadinho, arquiteto e escultor, nunca foi construtor nem procedia a arrematações, trabalhando geralmente em regime de ajuste direto com a irmandade-cliente ou subcontrato com o mestre-de-obras para a execução de esculturas ornamentais com riscos na maioria das vezes de sua própria autoria. No caso dos projetos arquitetônicos, vimos que as modificações eram um processo habitual, nada tendo portanto de extraordinário o fato do mestre-de-obras e também arquiteto Francisco de Lima Cerqueira modificar o risco original da igreja da Ordem Terceira de São Francisco de São João del Rei [fig. 10] ao longo do processo construtivo da igreja, situado entre 1774 e 1804.

O extraordinário, a nosso ver, é que a amplitude dessas modificações tenha tido como resultado final uma obra de tamanha qualidade, produzida pela sensibilidade e perícia técnica de Lima Cerqueira, e devendo em conseqüência ser avaliada em seus valores próprios e não comparativamente a um projeto inicial não obedecido, como até hoje se fez. Desse, apenas conservaram-se o motivo central do óculo redondo da fachada, a estrutura básica do desenho do frontão e alguns detalhes como o motivo circular que decora a parte inferior das torres e desenho das seteiras. Tudo o mais é Lima Cerqueira, do novo desenho das torres circulares com varandins no coroamento ao próprio plano do edifício com sua nave elíptica sinuosa, capela-mor alongada e sacristia lateral do lado direito. Chamamos também a atenção para o gracioso feitio dos óculos e janelas laterais e o novo desenho da portada solicitado ao Aleijadinho que será analisado no item seguinte.


Fig. 11
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, São João del Rei
Na fachada da igreja do Carmo [fig. 11] da mesma cidade, ajustada em dezembro de 1787, Lima Cerqueira repete os dados básicos da fachada de São Francisco, modificando entretanto o feitio dos bulbos das torres e suprimindo os varandins. O formato curvilíneo destas foi todavia posteriormente transformado em poligonal por decisão da Mesa da Ordem para que ficassem "mais vistosas e engraçadas". O atual frontão, avaliado por Germain Bazin como "pesado e com recortes inúteis" foi executado a partir de outro risco, confeccionado após a morte do arquiteto Lima Cerqueira.


Fig. 12
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, Mariana
Do ponto de vista arquitetônico é importante também incluir nesta série a igreja da Ordem Terceira do Carmo de Mariana [fig. 12], a última em seqüência cronológica, uma vez que a decisão de sua construção data do ano de 1783. É conhecido o nome do construtor, o mestre-de-obras Domingos Moreira de Oliveira, que também construiu a igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, e trabalhou nas obras de Santa Efigênia. O principal interesse está na fachada, uma curiosa reinterpretação de temas recém-introduzidos na arquitetura religiosa da região. O impacto maior vem das torres redondas, projetadas para trás do frontão, como em São Francisco de Ouro Preto, mas sem movimento rotativo. A referência a esta última igreja volta, aliás, na ênfase dada ao alteamento da cimalha acima do óculo, com alargamento inusitado para alcançar visualmente o limite interno das torres, servindo de base ao movimento do frontão. Por ocasião do falecimento do construtor em 1794, as obras ainda não estavam concluídas, prolongando-se até a terceira década do século XIX.

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