30 de jul. de 2009

Livro: Inflexões urbanas...




Sinopse

Esta obra se propõe a discutir uma questão intrigante: o porquê do sucesso de algumas cidades em momentos precisos de sua história. Buscar compreender transformações ostensivas nos processos urbanos, algumas vezes positivas, outras tantas negativas, e aqui denominadas de Inflexões Urbanas, é o que se propõe nestas páginas. Seu leitor potencial não é apenas aquele que trabalha ou que estuda a cidade. Claro, é pretensioso dizer que interessa a todos que nela habitam, porém seu texto direto amplia o número de leitores potenciais. Referências a fatos, locais e fenômenos que muitos certamente vivenciam contribuem para esse interesse maior. Cidades como Curitiba, outras do Brasil, da África, Europa e Norte América são aqui trazidas como referências concretas às ideias discutidas. A contribuição deste trabalho de Clovis Ultramari e de Fábio Duarte está na crítica à busca do impossível, à simplificação incabível da realidade urbana e à perda insensata de oportunidades

Qual a linguagem da arquitetura?




O desenho, assim como a fala e a escrita, é uma forma natural de linguagem do homem, um meio de expressão. Como linguagem, permite-lhe expressar-se e registrar suas idéias, a fim de que outros possam, inclusive, compreendê-lo. Artur Renato Ortega comenta como o desenho é uma das primeiras formas de expressão encontrada pelo homem, analisando-o como “forma de representação e comunicação” (2). Representação “como forma de evocar uma situação real na sua ausência”, funcionando assim como registro; torna-se comunicação ao inserir-se “num contexto de sentimentos que se transformam em sua relação homem-impressões (imagens ou letras) sobre uma superfície plana”, permitindo a quem os vê assimilar uma idéia através do olhar de outro.

Como uma linguagem natural do homem, devemos observar a importância da fluidez entre o pensar e o gesto manual que “executa” tal pensamento, por menos técnico seja esse movimento (3). Para o arquiteto o desenho assume uma importância maior, pois é através dele que se realizará o diálogo entre a mente (a idéia) e o construído (o papel), permitindo-o refletir sobre o projeto.

Paula Katakura aborda essa dimensão do desenho do arquiteto, destacando o papel dos primeiros riscos, o croqui:

“Instrumento entre o pensar e o fazer, comunicação e registro das idéias, feito e refeito inúmeras vezes até que satisfaça a todos os padrões e exigências imaginados, o desenho não é apenas o momento técnico do processo. Esclarece, ordena e estrutura as idéias” (4).

Enquanto ordena as idéias gestadas na mente (o universo das idéias), o desenho também favorece a criação, mostrando-se campo fértil para a emergência de novas possibilidades.

Sobre isso, destacamos a pesquisa de Alexandre Monteiro Menezes, que aborda a idéia da “Emergência” e da “Reinterpretação” presentes no projetar com o croqui. Ele destaca como é importante a capacidade do arquiteto de interagir com seus desenhos, usando-os tanto para a criação de soluções impensadas até serem desenhadas quanto para a modificação de propostas já projetadas. Menezes explica que a emergência “refere-se aos pensamentos e idéias que não podiam ter sido planejados ou antecipados antes da execução dos croquis”, enquanto que a reinterpretação “refere-se à habilidade de transformar, desenvolver e gerar novas imagens na mente enquanto desenhando” (5)
Torna-se claro, assim, a importância do croqui para a criação da arquitetura. O croqui é o desenho que

“fornece meios de melhor examinar e perceber as idéias concebidas, é o elemento através do qual o universo conceitual deverá se tornar real, projeção que permite visualizar melhor e ordenar as relações imaginadas. Auxilia a invenção e dá conhecimento a respeito do objeto” (6).

Através de artigo de Gouveia, Ortega conceitua a idéia de croqui, como

“o registro imediato da imagem mental, geradora do projeto. Caracteriza-se por um desenho expressivo, rápido e espontâneo, geralmente não instrumental e que interage no processo de projetar, promovendo um registro imediato da imagem mental (caracterizada por vezes nesse processo pela instabilidade e pela indeterminação de detalhes), criando possibilidades de controle e escolha de alternativas” (7).

Não bastando definir uma idéia, Ortega também procura esclarecer um modus operandi para sua execução:

“Vagnetti aborda a rapidez do croqui como uma necessidade de fixar a primeira idéia, porque atrás dela novas idéias vêm surgindo. Essa agilidade de se trabalhar com a mão e o cérebro é, pois, a verdadeira razão desse desenho: fixar, comparar, combinar imagens mentais” (8).

Michael Graves também observa essa capacidade de reflexão a partir do desenho, defendendo sua natureza especulativa. Ele diferencia três características importantes para o desenho do arquiteto: o croqui de referências, o estudo preparatório e o desenho definitivo (9). Graves acredita que esses três tipos de desenho tenham um importante papel na etapa de concepção do projeto (por mais que suas características possam fundir-se, dependendo do tipo de desenho e da forma de sua análise – o que não impede, ainda assim, uma classificação).


Desenho de apresentação para o cliente. Amplia-se a definição dos materiais empregados e do dimensionamento do espaço. A clareza do detalhamento construtivo também cresce. Fonte: Juliano Oliveira, 2009

O croqui de referência é um desenho feito apenas para a análise de um lugar, uma obra ou um objeto qualquer, sem necessária relação com qualquer projeto em desenvolvimento. Entretanto, esse desenho, além de calibrar a capacidade analítica de seu executor, fornece repertório que pode ser usado futuramente, “uma base metafórica que pode ser usada, transformada ou até empregada em uma composição posterior” (10).

Os estudos preparatórios são desenhos realizados com um claro objetivo de pesquisa em um tema específico, podendo apresentar diversas variações. É a pesquisa elaborada com fins de se chegar a uma proposta mais concreta, em um “processo que não é completamente linear mas envolve o reexame de questões já admitidas” (11).

Finalmente, Graves comenta sobre os desenhos definitivos. São desenhos para mensuração, dotados de proporções mais acertadas, definição de materiais e detalhes construtivos. Enfim, “o desenho torna-se um instrumento para responder questões mais do que para propô-las” (12).

Muito em função dessas características presentes no projetar, Christopher Jones ressalta o valor da liberdade projetual e a importância de sua fluidez, afirmando que acredita no “projetar como uma arte coletiva e compreensiva, que necessita tanto de habilidades imaginativas quanto científicas, mas não pode ser descrita ou determinada cientificamente sem diminuir seu caráter imaginativo” (13).

O projeto de arquitetura, enquanto ciência, nunca é apenas analítico, mas é também sintético: não privilegia apenas a análise (como a ciência clássica), mas também propõe, realiza a síntese da teoria, isto é, constrói (14).



A perspectiva eletrônica também contribui tanto para a definição de materiais quanto para um entendimento mais claro da composição volumétrica. O projeto já está mais próximo do seu "desenho definitivo". Fonte: Juliano Oliveira, 2009




Operações de arquitetura

O rápido desenvolvimento dos meios informatizados de projeto parece apontar para um caminho, sem volta, na prática profissional. Há algum tempo se apresenta uma idéia de convergência digital que acabaria por incorporar todo o “fazer arquitetura” (15). O resultado desse processo seria um novo perfil para o profissional: o do arquiteto computadorizado que substituiria, definitivamente, o profissional da prancheta. Talvez seja mais prudente, entretanto, reafirmar a importância do desenho tradicional no processo de projeto, o que indicaria como boa alternativa à prática atual a hibridização dos processos de trabalho: o tradicional e o digital.

“Os croquis, mesmo depois do advento do CAD, continuam sendo atividade central na prática do projeto arquitetônico e, mais do que qualquer outro método, caracterizam o processo de projetar. [...] O uso do croqui parece dar suporte ao pensamento criativo” (16).

O desenho tradicional – em especial o croqui – ainda se mostra uma “técnica” importante para o processo de criação, em função de sua fluidez e rapidez na representação da idéia imaginada, além de facilitar o desdobramento de novas idéias e formas ainda não pensadas.

Duarte afirma que ao mesmo tempo em que

“ocorre uma relação entre o programa utilizado e o método de trabalho do projetista, pois os programas exigem seqüenciamentos de tarefas [...], o trabalho auxiliado com computador não é idêntico ao tradicional, e este instrumento, até o momento, não cumpre todas as tarefas sempre da melhor maneira. Existe a necessidade de um trabalho híbrido com os outros instrumentos” (17).

Dessa forma, um caminho para a prática contemporânea é o diálogo entre esses vários suportes: croquis tradicionais são ampliados por técnicas digitais de representação e simulação, estimulando a criação e agilizando o trabalho.

“É importante que os arquitetos se dêem conta de que a ferramenta computacional é um meio a mais, e não um substituto total. Ela não vem substituir mas sim agregar-se aos outros” como já alertava Cortesi em 1992, adiantando que “à incorporação dos sistemas gráficos deverá se seguir uma re-acomodação profunda dos critérios teóricos de organização e dos métodos operacionais vigentes em suas atividades” (18).

Daí a persistência da dúvida de alguns arquitetos: a imersão total nas novas tecnologias ou a escolha por um caminho de diálogo e interação entre os vários saberes? Escolhas que o tempo irá mostrar quais as mais corretas.

Notas

1
O artigo é um excerto do seguinte trabalho: OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista. Construindo com bits: análise do processo de projeto assistido por computador. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2007.

2
ORTEGA, Artur Renato. O projeto e o desenho no olhar do arquiteto. Dissertação de mestrado em Arquitetura. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2000, p. 6.

3
O arquiteto Robert Stern comenta sobre uma revalorização do desenho – e em especial do croqui – a partir do Movimento Pós-Moderno, estimando sua capacidade de demonstrar as intenções do projetista de modo mais pessoal (ao contrário da perspectiva axonométrica, típica representação do Movimento Modernista). É o que ele chama de poesia do Movimento Pós-Moderno, que devolve à Arquitetura seu poder enquanto “ato de afirmação cultural”.

4
KATAKURA, Paula. O processo do projeto arquitetônico. Dissertação de mestrado. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1997, p. 29.

5
MENEZES, Alexandre Monteiro. O croqui e a idéia. In: Seminário Arquitetura e Conceito, 2, 2005, Belo Horizonte. 2º Seminário Arquitetura e Conceito. Belo Horizonte, NPGAU / EAUFMG, CD-ROM, p. 5

6
KATAKURA, Paula. Op. cit., p. 31.

7
GOUVEIA, 1998. Apud ORTEGA, Artur Renato. Op. cit., p. 71.

8
ORTEGA, Artur Renato. Op. cit., p. 104. Grifo do autor.

9
GRAVES, Michael. The necessity for drawing: tangible speculations. Architectural Design, nº 6, 1977, p. 384.

10
Idem, ibidem, p. 384.

11
Idem, ibidem, p. 384.

12
Idem, ibidem, p. 387.

13
JONES, John Chris. Design methods in 250 words. Disponível em: . Acesso em 17.04.2007.

14
CAMPOS, José Carlos; SILVA, Cairo Albuquerque da. O projeto como investigação científica: educar pela pesquisa. Arquitextos n. 050, Texto Especial 246. São Paulo, Portal Vitruvius, jul. 2004 .

15
Cf. CORTESI, Myrian Vieira Porto. Projeto de arquitetura e sistemas gráficos computadorizados: uma análise metodológica. Dissertação de mestrado. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1992, Vol. I.; LAISERIN, Jerry; LINN, Charles. Challenges for the Digital Generation. Architectural Record. New York, n. 12/2000, dez. 2000, p. 166.

16
MENEZES, Alexandre Monteiro. Op. cit., p. 3

17
DUARTE, Rovenir Bertola. Uma investigação sobre as diversas aproximações entre o computador e o processo de ensino/aprendizado do projeto arquitetônico. In: PROJETAR 2003: CONGRESSO NACIONAL SOBRE ENSINO E PESQUISA EM PROJETO DE ARQUITETURA, 1, 2003, Natal. Anais do Projetar 2003: I Congresso... Natal, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2003, p. 4.

18
CORTESI, Myrian Vieira Porto. Op. cit., p. 28.

Juliano Carlos C. B. Oliveira, Uberaba MG Brasil

Juliano Carlos C. B. Oliveira é arquiteto urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo (EESC-USP) e docente do CAU-UNIUBE.

Fonte: http://www.vitruvius.com.br/drops/drops28_05.asp

27 de jul. de 2009

Aprendendo a lidar com o inesperado....


A família é um tesouro inestimável e de valor incalculável. Quando somos crianças, vemos nossos pais como heróis imortais, sem defeitos, protetores e, acima de tudo, nossa referência de mundo. Depois, à medida que vamos crescendo, ainda que os consideremos como herois, sabemos que não são imortais, mas imaginamos que eles ficarão bem velhinhos e verão nossos filhos nascer, crescer e, quem sabe, os filhos deles também. De repente, temos que lidar com as doenças, com coisas que nunca esperávamos que pudesse atingir nossos pais. Imaginar a perda de um deles é dolorosa e, ao invés de pedirmos a proteção deles, pedimos, agora, que nós assumamos o papel de herois, para protegê-los, torná-los mais fortes. Deus sabe colocar as coisas nas horas certas, e será o nosso guia maior, nessa batalha, que está apenas começando...mas seremos vencedores...Fé e esperança...